Os Levantamentos Olímpicos Aumentam a Altura de Salto Vertical em Populações Desportivas

Revisão sistemática com meta-análise


RESUMO

Esta revisão sistemática foi realizada para avaliar o efeito dos levantamentos olímpicos no salto vertical, comparado com um grupo controlo, com o treino de força tradicional e o treino pliométrico.

Este estudo é composto por seis estudos que abordaram o efeito deste tipo de treino sobre o salto vertical quando comparado com o treino tradicional e o treino pliométrico. A amostra é composta por 232 participantes, com experiência prévia em treino de força. Três estudos compararam os levantamentos olímpicos com o grupo de controlo, quatro estudos com o treino de força tradicional e três estudos com o treino pliométrico. Os estudos foram aplicados durante seis ou mais semanas e os participantes tinham em média 20 anos.

A meta-análise indicou que os levantamentos olímpicos melhoraram o salto vertical em 7.7% comparado com o grupo controlo, melhoraram a altura do salto vertical em 5.1% comparado com o treino de força tradicional. Quando comparados com o treino pliométrico não apresentaram diferenças.

Este tipo de treino mostrou ser uma alternativa válida para melhorar o salto vertical e que pode ser uma estratégia benéfica para alternar com o treino pliométrico visto não ter havido diferenças entre os dois.

PALAVRAS CHAVE:

Levantamentos Olímpicos, salto vertical , treino de força, pliométricos, salto com contramovimento.


ANÁLISE

O salto vertical (SV) é fundamental para o sucesso desportivo em muitos desportos. Está muito ligado à performance na corrida. No futebol e no voleibol o SV está intimamente relacionado com o sucesso desportivo em praticantes de alto nível. Os testes de SV são frequentemente utilizados para aferir a potência e força explosiva dos membros inferiores. Uma das estratégias de treino mais utilizadas para melhorar o SV é o treino pliométrico, logicamente. No entanto a proposta desta revisão sistemática foi perceber quais os resultados apresentados pela utilização dos levantamentos olímpicos (LO) sobre o SV.

Antes de aprofundarmos a revisão sistemática importa clarificar que os levantamentos olímpicos são dois. O “Clean and Jerk”(arremesso) e o “Snatch”(arranco), são os dois movimentos obrigatórios numa competição de halterofilismo. Apesar de serem ferramentas validadas pela ciência e na prática por alguns treinadores, ainda existe uma certa resistência à sua utilização na programação de treino por parte de muitos preparadores físicos.

É importante referir que ambos os movimentos têm muitas semelhanças biomecânicas com o salto, quer em termos cinéticos como em termos cinemáticos. Para além disso esta estratégia pode trabalhar uma zona diferente do treino pliométrico no espectro da curva de força-velocidade.

Dito isto vamos analisar esta revisão sistemática e perceber se esta é uma ferramenta válida para o teu programa de treinos. Quando comparamos o LO com outras estratégias de treino percebemos que é uma estratégia válida e que a sua aplicação durante pelo menos 6 semanas trará resultados que poderão aumentar o SV (expressão de força explosiva nos membros inferiores) em 7.7%. Para além disso esta estratégia melhorou também o salto com contramovimento e o salto e alcança (jump and reach).

A explicação para esta acentuada melhoria poderá ter a ver com a máxima intenção na realização dos exercícios, uma tripla extensão explosiva e a utilização de sobrecarga neste padrão, sobrecarregando o sistema neuromuscular de forma progressiva.

Apesar de muito semelhantes visualmente o SV tem como objetivo deslocar o corpo verticalmente, já os LO têm como objetivo deslocar a barra verticalmente, no entanto ambos procuram uma continua aceleração durante todo o movimento.

Quando comparamos o treino de força tradicional com os LO, percebemos que os LO contribuem muito mais para a melhoria no SV, isto poderá estar relacionado com o facto de que o treino de força tradicional atua maioritariamente na zona de força máxima, ou seja, tem menor relação com a velocidade do que os LO. Sabemos também que potência é o resultado da multiplicação de força e velocidade, como tal fica claro que o treino de força tradicional acaba por atuar muito mais sobre um lado desta equação o que poderá não resultar em ganhos tão acentuados como os dos LO. Outro fator a ter em conta tem a ver com a aceleração em todo o movimento nos LO, o que não acontece no treino tradicional devido a mecanismos internos de proteção e à carga utilizada.

Quando comparamos o treino pliométrico com os LO, apesar de não existirem diferenças sobre o SV, parece existirem diferenças na forma como estas estratégias atuam sobre o corpo. O treino pliométrico parece estar relacionado com as propriedades do complexo musculo-tendinoso, já nos LO a melhoria poderá ter a ver com o maior recrutamento de unidades motoras.

Em suma, os LO parecem ser uma estratégia válida para a melhoria do SV, que já mostrou ter uma influência muito grande sobre a performance desportiva. Os LO não são a única alternativa válida para melhorar o SV, no entanto, são uma alternativa a ter em conta por parte dos preparadores físicos. O ideal será utilizarem ambas as estratégias de treino referidas neste estudo de forma periodizada de modo a maximizarem os efeitos de treino, visto que desta forma estarão a atuar sobre a curva de força-velocidade num espectro mais alargado. Apesar de existir algum medo associado a esta ferramenta de treino por parte de alguns treinadores é importante referir que esta estratégia, à semelhança de muitas outras, deverá ser aplicada de forma progressiva e orientada com foco na execução técnica. Na minha opinião a máxima intenção será um aspecto fundamental para o sucesso desta estratégia, superiorizando-se até, muitas vezes, à carga utilizada. Devo dizer também que apesar de os LO serem apenas dois, existem muitas variações que devem ser consideradas consoante o objetivo individual e as características do praticante.


BIBLIOGRAFIA

[1] Hackett D, Davies T, Soomro N, et al Olympic weightlifting training improves vertical jump height in sportspeople: a systematic review with meta-analysisBritish Journal of Sports Medicine 2016.

Tiago Sousa

- Licenciado pela Universidade da Madeira;

- Pós-graduação em Sports Performance Universidade Autónoma;

- Exos Performance Specialist;

- Co-fundador da Associação Portuguesa de Preparadores Físicos de Basquetebol.

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